sábado, 27 de novembro de 2010

Copa surgiu para curar as feridas da Primeira Guerra Mundial

Eleito presidente da FIFA em 1921, Jules Rimet tinha o projeto de usar o futebol para aproximar os povos após o conflito. Em 1930, o sonho se tornou realidade: há 80 anos nascia o evento esportivo mais popular do planeta
por Eric Pincas
Popperfoto / Getty Images
Uruguaios comemoram a conquista do primeiro campoenato mundial em 1930, uma "tempestade de entusiasmo" que emocionou Rimet
Na baía de Villefranche-sur-Mer, em 21 de junho de 1930, um navio deslizava lentamente rumo ao horizonte. Saindo da França, seu destino era o Uruguai. A bordo, passageiros quase anônimos. Rapazes fortes e musculosos que enfrentavam a travessia para disputar a partida de abertura da primeira Copa do Mundo de futebol. Um batismo duplo, de certa forma. A maior parte deles jamais tinha se aventurado pelo mar, e a viagem até Montevidéu iria durar 15 dias. Por sorte, as condições meteorológicas se anunciavam favoráveis.

A bordo do Conte Verde, um homem de terno e gravata, cabelos brancos e bigode finamente talhado ostentava um sorriso discreto. Em sua bagagem, uma estatueta de 30 cm de altura e 4 kg, representando uma Vitória segurando sobre a cabeça um vaso octogonal: a Copa do Mundo, um troféu de ouro maciço produzido pelo escultor francês Abel Lafleur. O homem que cuidava desse precioso tesouro chamava-se Jules Rimet. Presidente da Federação Internacional de Futebol desde 1921, ele batalhava, havia quase dez anos, para organizar uma competição aberta às equipes do mundo inteiro. Seu leitmotiv: aproximar os jogadores dos dois hemisférios, em um espírito de fraternidade, e fazer do futebol o rei dos esportes atléticos.

As esperanças que ele depositava nessa primeira Copa do Mundo eram imensas. A poucas semanas do momento do primeiro confronto, ele rememorava o quanto tinha sido longa a estrada até o embarque para a América do Sul.

Nascido em 24 de outubro de 1873 em Theuley-les-Lavoncourt, um vilarejo de Haute-Saône, na região francesa de Franco-Condado, o pequeno Jules passou a infância entre a escola, a loja de produtos alimentícios do pai e o moinho do avô. A agricultura regional sofria então o impacto da guerra franco-prussiana de 1870. As condições de vida eram difíceis. Em 1885, com 12 anos, ele se juntou aos pais, que haviam partido em busca de uma vida melhor em Paris. Aluno estudioso, terminou o ensino médio e começou a estudar direito. Uma carreira jurídica se abria para ele. Mas seria essa sua verdadeira vocação?

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